Do caos à lama, da lama ao caos... ressurgir*

"De estômago embrulhado, ela passara o dia todo. Não havia comido nada que lhe fizesse mal. Sequer poderia estar doente, afinal de contas, no dia seguinte teria de trabalhar novamente. Ela caminhava pra lá e pra cá na sala de sua casa, mas a claridade e o som da tv a irritava. Inquieta, mas sem ter coragem de desligar o bendito aparelho, procurava um espaço seu.

Sentou-se ali, entre a sala e o corredor longo que levava a seu quarto, no chão frio e sujo. Sentia-se pequena ao olhar de baixo pra cima as paredes de seu pequeno apartamento. Ainda que quieta, gritava, por dentro, tentando se fazer ouvir por algo ou alguém que estava a léguas longe dali. Sempre quieta em seu canto, sentada junto à parede, observava os detalhes do piso e as rachaduras que este já demonstrava. Numa vontade descontrolada, levantou-se e foi até a cozinha.

Abriu a gaveta do armário e não demorou a escolher uma faca sem serra, porém muito afiada e ponteaguda. Tocou sua superfície metálica nos braços, sentiu a frieza da lâmina e ao experimentar a rígida e agressiva faca que já começava a arranhar sua pele, pensou no que estava fazendo com aquele objeto. Não encontrara respostas, se quer pistas.

Foi então que, consumida por uma sensação de arrepios constantes, se viu perdida em meio às prateleiras vazias e a pia cheia de louça por lavar. Ainda que não soubesse o que fazia segurando a faca, se olhava no reflexo da mesma e via um rosto pálido, atordoado por sua angústia. Aliás, "a angústia", pensou, "é o sentimento mais ingrato possível, afinal, surge de forma que nem se imagina de onde veio, nem para onde vai". Para ela não era, nem poderia ser, diferente.

No silêncio ao qual estava imersa, o telefone tocou. Num susto que há tempos não tinha, seu coração bateu mais forte e, ao atender à ligação, sorriu. A dor de estômago passou, tal como um soluço: no susto e de repente!"


ps.: o nome do texto é, sim, uma paráfrase de Nação Zumbi.

* texto de minha autoria