quarta-feira, janeiro 11

Enfim, em terra firme!

* O post de hoje é um "conto-autobiográfico" sobre o dia de hoje... o qual "terminou" tudo bem, apesar de o dia ainda não ter terminado! rs... seguem os acontecimentos... com um pouco de humor, uma pequena dose de reflexão e um certo sentimento de angústia e medo!

-----

Após cerca de 1h de viagem, nosso avião chegou a Caxias do Sul. "Tudo bem, então", pensei. Ledo engano. De acordo com comandante e tripulação, nenhum problema maior, todavia tornamos a remeter e lá longe, a mais de 5 mil milhas estávamos do chão novamente!

Diz a voz que se ouve ao rádio da aeronave: "Por questões de segurança, tentaremos o pouso novamente em condições mais favoráveis de vento. No momento, o vento na área da pista está superior ao permitido para a aeronave. Ressaltamos que não há motivos para que se preocupem."

Bem, como se fosse a voz de Deus, os passageiros sentiam o conforto de um "acalento-informativo" (ou seria de uma "informação-acalentadora"?).

O avião tornaria a sobrevoar a área do aeroporto de Caxias do Sul, e eis que para nossa surpresa (e desespero de muitos! rs), o dito cujo torna a subir! "Deus meu!" diziam os mais angustiados."É, isso não é legal", dizia eu pra mim mesmo... Minha leitura, deixei de lado (eu lia o velho Bukowski e seu "Misto Quente" - a qual talvez não fosse a leitura mais recomendável para fazer em plenos e amplos ares).

Ao meu lado, se preocupava (e se irritava) um passageiro, afirmando que o piloto deveria ser"marinheiro de primeira viagem". Cada qual em sua irritação ou agonia, com seus iguais buscando acalmá-los. Tudo inútil: enquanto não se está com os pés sobre o solo, tão familiar e rijo, não se está seguro, tranquilo e à vontade. O piloto afirmou-nos, então, que nos dirigiríamos a Porto Alegre, e esperaríamos a melhora nas condições (do vento) em Caxias do Sul.

Era um zunzunzum generalizado dentro do pássaro de metal e, de repente, me peguei tentando acalmar a todos. Minha mente nada-maldita produzia-me vídeos em série! Imaginei coisas. Primeiro, diante do transtorno geral, pensei"e se essa porra cair?" e, seguido disso, imagens de meus familiares, de meus amigos, de meus entes amados, queridos... Via o desenrolar do livro de minha vida ser bruscamente interrompido e já imaginava como seria minha "biografia" por parte dessas muitas pessoas com as quais divido meus melhores (e piores) momentos. Blablablá, não me preocupei a tal ponto, e tanto é verdade que olhei pela janela, em uma das muitas curvas que o avião "dobrava" e "vi", sim, eu "vi" a imagem da "morte", a tal caveira de capuz preto a planar do lado de fora! Comecei a rir com minha imaginação fértil e malévola, sozinho, e imaginei o anjo da morte pensando: "ops, vôo errado!". Estávamos a salvo.

É bem verdade também que não sou um poço de segurança e tranquilidade. É mais do que óbvio que fiquei com um medo de perder a única coisa que tenho de tão valiosa, minha simples e humilde vida (não tão simples, diria "rica" pra ser mais sincero). Se a posteridade existe, não sei, mas o que eu faria dela sem minhas emoções, sem meus queridos (exceto meus pais), sem todos que quero. Mas, vamos encarar os fatos! Enquanto todo mundo demonstra instabilidade, alguém tem de assumir o papel da calmaria e do otimismo, não? Já que pouco se pronunciava o piloto e a tripulação não transmitia muita segurança, alguém tem de apaziguar os ânimos e demonstrar uma segurança da qual não pode "provar", mas pode ao menos transmitir. Lá estava eu, sempre tão "desligado" que me parece relativamente fácil demonstrar calma em momentos difíceis... ainda bem! Ainda que eu visse meu pai tranquilo, não é justo todo este fardo sobre ele... Que dividamos as mazelas entre nossas forças individuais...

Enfim, chegamos a Porto Alegre. A ansiedade perante o pouso foi grande e ninguém tinha o olhar tranquilo nessa hora (nem eu, rs!). Qual não era a "proposta"? O avião seria reabastecido ("será que estava no osso já?", já se perguntava o povo) e decolaria novamente, rumo a Caxias, a fim de tentar o pouso novamente! Ah, não! Daí já é muita adrenalina pra uma manhã só. Entre nós, conversamos e descemos do bicho, meus pais e eu, e mais umas 6 pessoas.

Cada qual com suas micro-histórias a respeito da emoção indesejada, cada qual com suas idas ao banheiro pra mandar embora tudo que quis sair durante o vôo. A companhia aérea nos providenciou, então, uma van para Caxias do Sul e após algum tempo de espera, estamos na tal, via estrada, ainda um pouco distantes do destino final, mas mais tranquilos pois estamos, enfim, em terra firme!

---

"Não estou competindo com ninguém, não tenho ilusões com a imortalidade, não estou nem aí pra ela. É a AÇÃO enquanto você está vivo. Os partidores se abrindo na luz do sol, os cavalos mergulhando na luz, todos os jóqueis, bravos e pequenos diabos em sua sela brilhante, indo fundo, fazendo acontecer. A glória é o movimento e a audácia. Que a morte se foda. É hoje e hoje e hoje. Sim."

(Charles Bukowski)

Um comentário:

  1. Muito bacana primo! Ainda bem que sobreviveram para contar! rs

    Beijos, Débora

    ResponderExcluir

Sinta-se livre se quiser comentar, criticar, elogiar ou rasgar ofensas!