quarta-feira, julho 13

Nouvelle vie dans Liberté*

Descia pela ladeira mais estreita, em uma velocidade tal que qualquer frenagem seria morte súbita. Não poderia escorar-me e não havia onde me agarrar. Era noite, tudo estava escuro. Não havia iluminação nos poucos postes da rua, apenas fios e sapatos pendurados. Todas as casas pareciam repetir-se, como num eterno Déjà Vü, segundo após segundo. O chão estava escorregadio como se houvesse garoado. O chão era de paralelepípedos e havia musgo entre cada pedra. Fazia frio, porém mal o sentia. Descia e não conseguia diminuir a velocidade, mas não me cansava, muito pelo contrário. Quanto mais eu corria, menos sentia meus pés tocarem o chão. Tudo passava a frio e indiferente para mim, e eu não via um fim naquilo tudo. Não havia ninguém no horizonte, eu não podia olhar para trás, mas observava tudo ao meu redor, sempre igual. Em uma fração de segundos, ouvi um som, senti que alguém me observava. Não podia ver este alguém, mas o sentia. Era como se estivesse correndo ao meu lado, no mesmo sentido, no mesmo passo, na mesma velocidade. Parecia que buscava me compreender, e sentia que me compreendia, como se conversássemos, como se nos conhecêssemos há muito. Aos poucos, não era apenas mais a sensação de companhia, mas um perfume levemente doce me cercava e percebi que, de repente, a ladeira antes tão íngreme, se tornava plana, minha velocidade desacelerava, a rua clareava, o frio se dissipava e o musgo do chão desaparecia. Rodeado por um calor diferente e único, voltei a sentir meus pés, e todo meu corpo novamente. Meu coração que pulsava leve ainda que rápido, passou a bater forte e lentamente. Sentia meu peito cheio de vida novamente, a paisagem da rua começou a ser alterada. A rua abria-se, tornava-se larga e o sol nascia ao fundo do horizonte, onde antes era apenas uma escuridão sem fim. Os postes se transformaram em árvores, os sapatos tornaram-se pássaros, os fios eram pequenas nuvens brancas. Aquele suave aroma tornou-se mais intenso, e eu comecei a sentir-me não apenas cercado e observado, mas sentia um leve toque em minhas mãos. Tentei segurar algo sem saber bem o que era, mas ao que fechei minha mão, este algo se esvaeceu e ao que relaxei novamente os dedos, tornei a senti-lo. Era uma pequena mão, leve, lisa, macia, suave e livre. Não estava ali para ser segura, mas para caminhar comigo, agora que eu não precisava mais correr. Leve e belo como “Art Nouveau”, passei a admirar este “desconhecido”, a este “indomável ser”. Senti que era nesta liberdade que encontraria minha paz, na liberdade de caminhar ao meu modo, mas de peito acalorado. Na liberdade de caminhar, mas não caminhar sozinho. Senti que apenas na liberdade poderia dizer e ouvir deste "alguém" que surgia, então, com a mais pura das sinceridades, "eu te amo".



* em português:
"Nova vida em Liberdade"

3 comentários:

  1. Nossa!
    Sempre adorei a forma como vc escreve e vc sabe bem disso.. mas dessa vez foi de uma profundeza tão grande, que pude sentir cada sensação e cada movimento do texto! Lindo! Adorei mesmo, vc devia estar muito inspirado p/ colocar essas palavras tão perfeitamente encaixadas! Não deixe de escrever nunca!
    Beijo!!!

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  2. Concordo plenamente com o comentário acima.
    Bem sei qual o motivo da inspiração!
    Espero q eu veja colorido assim logo, logo!! :P
    Adorei seu blog!! passarei mais vezes!!!
    bjusss

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  3. Estou ficando fascinada pelos seus textos, são maravilhosos, esse texto é intenso e leve ao mesmo tempo, é incrível, é lindo.

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